quinta-feira, novembro 02, 2006

Mãos

Sentei-me.
Suspirei…
Servi-me calmamente, o leve aroma de comida invadiu-me, peguei na garrafa.
Levantei o copo, um vinho bastante encarnado, denso, dançou dentro dele.
Todos falavam entusiasticamente, trocavam pequenos pratos, serviam-se de tudo gesticulando.
Sorri…
Ninguém dava por mim, pareciam felizes, diversas conversas misturavam-se na antiga sala de jantar.
No topo da mesa onde me encontrava, ouvia frases misturadas, enroladas umas nas outras, palavras filhas de diferentes conversas chegavam até mim, não percebia o seu sentido, mas guardava-as todas.
Tossi…
Estou nu na praia, uma onda gigante engole-me gradualmente. Foi assim que senti a onda de silêncio que me atacou quando provoquei o pequeno som com a garganta.
Um miúdo loiro de cabelo comprido saltou imediatamente da mesa, prato e copo estalaram no chão, nem olhou para trás, voou para cima de mim beijando-me onde conseguia.
Abracei-o com a força do mundo, mergulhei o meu nariz no seu pescoço, senti aquele cheiro, era a minha cria...
Chorei…
Enquanto abraço a minha vida, sinto um homem forte abraçar-nos aos dois, viro-me para trás, um velho ancião de mãos nodosas e gastas chorava, espetou o seu nariz no meu pescoço, sou a sua cria...
Em seguida partilhámos amor e pão, abraçámos todos...
Estávamos na nossa cidade tranquila.

19 comentários:

Lara disse...

Só aqueles que nós amamos de verdade são a nossa verdadeira ompanhia.

Quantas vezes não me senti tão só e distante, junto de pessoas que até conheço.

beijooo
adorei
tens um blog magico!

ricardo disse...

:)

mto bom, como sempre!

abraço.

Woman disse...

O reconhecimento foi imediato, o cheiro era de quem amamos...

Um beijo

Xanusca disse...

Andas inspirado...

Abssinto disse...

Família, a riqueza maior. Muito bom texto, atenção.

abraço

Pedro Gamboa disse...

Bad Lolita.

Sei do que falas…

Obrigado, saudações.

Little_Blue_Sheep.

Woman.

Sim…, o cheiro. O cheiro é uma coisa indescritível.

Saudações.

Xanusca.

É a aldeia…

Abssinto.

Sim a família é tudo, pode ser um lugar comum, mas é uma forte verdade.

Obrigado e fortes saudações.

Pedro Gamboa disse...

little_blue_Sheep

Desculpa.
Muito obrigado pela constante força, um forte abraço

Ana Rita disse...

Só mesmo 1 daqueles abraços cura o silêncio de que falas.

Anónimo disse...

Gostei,gostei muito. Continua. Eu vou estar sempre atenta à tua escrita e também tentar ler para além das palavras, previlégio que só as mães têm.
Beijos
Stela.

Pedro Gamboa disse...

Ana Rita.

Um abraço tão simples, tão importante, tão intenso.

Saudações.

Stela.

Somos a melhor equipa do mundo.

Saudações.

Lara disse...

Vinha ver se tinhas algo de novo :)

beijos

Xanusca disse...

:O a tua mãe lê o teu blog???
ehehe depois diz-me o que acha dos post's da linha do "Sofá vermelho"!

Pierrot disse...

Quantas vezes me senti assim, como que perdido algures num jantar, no meio de um debate de ideias, entregue a um copo de vinho, ausente com o meu telemóvel onde escrevo tudo o que me vem à cabeça para depois compilar nalgum texto ou num poema...

E depois dizem-me: "É pá, deixa lá as sms..."

Eu sorrio e quando lhes digo que estou a escrever umas coisas lá me deixam sossegado até que uma onda mais forte me traz de novo à tona da conversa...

Abraço
Grande texto
Eugénio

pecado original disse...

Simplesmente arrepiante.
Engoles vontade e firmeza nos teus dias e eu gosto de te ver que te alimentas bem.

Um historia, uma narrativa... e como todos nós fazemos parte de um ciclo humano. Partilhemos todos desse amor e pão.

Pedro Gamboa disse...

Bad Lolita

Nem sempre posso dedicar a esta taberna o tempo que gostaria.
Obrigado por vires e principalmente por dizeres – Vim há tua mesa, e não encontrei alimento…

Beijinho.

Pierrot.

Sei bem do que falas amigo…
Espero que gostes de ser assim.

Forte Abraço.

Pecado Original.

Sem dúvida pertencemos a esse fantástico, mas complexo ciclo.
Partilhemos!

Beijinho.

Estranha pessoa esta disse...

Tinha aqui escrito umas linhas...
Mas, depois olhei para o lado esquero e vi as palavras do Pierrot.
Seria maçador estar a escrever o mesmo sentir, apesar de outras palavras.

Deixo não um abraço.
Mas, um obrigado pela partilha de tais linhas e entrelinhas.
Não faço ideia de como cheguei aqui.
Mas, vou ficar.

Pedro Gamboa disse...

Estranha pessoa esta

Eu é que digo obrigado.
È bom saber que embora sejamos todos diferentes, somos todos iguais, penso que percebes…
Obrigado e forte Abraço

Hannanur disse...

Costuma-se ler ao contrário, ou seja os posts mais antigos até aos mais recentes.Aqui aconteceu-me isto:fiquei literalmente de boca aberta e olhitos presos nas tuas palavras.

Gosto quando se escreve na primeira pessoa.Não é para todos.
Vou continuar...vou, vou...

Pedro Gamboa disse...

Memórias de um sorriso luso

Muito obrigado pelas tuas palavras.
Tem sido fantástico partilhá-las, mas o retorno das palavras que leio dos outros, tem feito de mim um homem mais rico…

Saudações.