terça-feira, novembro 14, 2006

Água

Sinto-me acordar levemente, acordo agitado como sempre, não porque tenha dormido mal, mas por uma outra qualquer razão que não sei explicar.
Ainda é cedo, sinto-o.
Viro-me para o lado, tento dormitar mais um pouco. Um agradável cheiro percorre o quarto, raios de sol beijam-me a face, procuro aconchego no corpo nu que dorme comigo.
Quem será?
Toco naquela pele macia, subo e desço com o meu dedo por campos e vales, adoro o seu cheiro a rosas, deve ser bela.
Não me apetece!
Salto da cama, rapidamente visto o roupão, a madrugada dispõe-me bem, entro na cozinha de repente, varias mulheres com fardas ás rendinhas revelam-se constrangidas.
- Bom dia menino.
Apalpo todas, sou brindado com vários gemidinhos envergonhados, mordisco qualquer coisa enquanto saio para a rua.
Olhares reprovadores são meu alimento, agarro no primeiro cavalo, apetece-me voar.
O centeio está bonito, vejo-o passar a grande velocidade, o meu companheiro branco corre vorazmente, ainda é um belo potro como eu.
Algo me faz estancar imediatamente!
Um som que conheço orienta-me, não pode haver canto mais bonito. Procuro não fazer qualquer barulho enquanto desbravo cautelosamente o centeio, passados poucos momentos descubro o que procurava.
A metros de mim, um escravo com não mais de vinte anos, faz amor vorazmente com uma jovem.
Fico encantado!
Dois corpos negros, belos, vibravam em uníssono, de costas para mim aquele corpo musculado de pele brilhante enche de prazer aquela mulata.
Ela revira loucamente os olhos, o seu peito redondo, transpirado, parece querer tocar o céu, é perfeita nos seus pequenos espasmos, os seus gemidos aumentam agora de tom, o corpo daquele homem contorce-se violentamente, poucos minutos restam, gradualmente a paz roubada voltou à ceara.
Regresso silenciosamente.
Os meus cabelos compridos misturam-se com o vento, cavalgo vale a baixo, pequenas flores observam-me, assim como eu, adoram o sol!
Prendo o meu companheiro de viagem no velho carvalho, o roupão cai no chão, encho o peito, respiro com força esticando os braços, procuro abraçar a vida. Nu, mergulho entusiasticamente.
Sou livre!
Fecho os olhos, fico assim a boiar como se não houvesse amanhã, sinto aqui e ali folhas que se colam a mim, irei levá-las para casa, pequenos pássaros que desconheço cantam, o vento sacode tudo emitindo um pequeno som, uma nuvem mistura-se com o sol.
Uma lebre pára na margem, olha para mim.
Fico a olhar aquele animal ali parado, de orelhas espetadas fita-me orgulhosamente, olha para mim com a sabedoria de mil anos, majestosamente parece já saber tudo.
E sabe!
Meneou a cabeça e arrancou velozmente pelo prado, aprecio ternamente a graciosidade do momento talvez um dia também eu saiba tudo…

11 comentários:

Abssinto disse...

Como sempre, li num ápice. Livre pois, como a água e o vento que move os campos de centeio e agita os cabelos...

Abraço

Miguel disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Miguel disse...

Porque não sabes o nome de quem contigo dorme, porque apalpas as redinhas e finalmente contemplas extasiado o amor dos outos?


O que sabe a lebre?
O que te quis ela dizer?
E porque maneou ela a cabeça e arrancou velozmente?
Serás mesmo livre?

Podia-me dar para pior, deu-me para isto, para questionar! ;-)

Pierrot disse...

Taradão pá
Rendinhas e coisa e tal...
Também gosto desses sonhos só que depois acordo, e não estão lá...chatisse ;-)

Bonito texto
Abraço
Eugénio

pecado original disse...

Sinceramente vir aqui é mergulhar numa narrativa notavel.
Escreves divinamente ou tranparente como agua.
:D belissimo

Hannanur disse...

Fiz a ronda normal e termino aqui.Em beleza !

uma boa noite

Lara disse...

E a mulata também te viu? ;)

Ai sabes escrever com aquela intensidade sim... espero que o proximo ainda seja mais "carnal"

beijoooooooo

Luna disse...

:) :)

Pedro Gamboa disse...

Abssinto.

Livre amigo, livre…

Forte Abraço.

Miguel.

Fico muito elogiado com as tuas perguntas, escrever é uma experiência fantástica, obrigado por as teres feito.

Forte Abraço

Pierrot.

Ai as rendinhas…
È sempre bom sonhar.

Forte Abraço.

Pecado Original.

Muito obrigado, fico sem jeito…
Muito obrigado por vires ler, obrigado por me permitires partilhar…

Beijinho.

Memórias de um sorriso Luso.

Obrigado por me fazeres parte do teu passeio…

Boa noite e Saudações.

Bad Lolita.

Não…, a deslumbrante mulata não viu o jovem, ele sim, pôde observar as suas belas formas.
Obrigado pela força constante.

Beijinho.

Luna.

;)

ricardo disse...

gostei!

Pedro Gamboa disse...

Little_Blue_Sheep.

Obrigado pela constante força.
Beijinho