sábado, dezembro 29, 2007

Tempo

Tropeço nas pedras, tropeço na vida…
Dentro de mim navega qualquer coisa de estranho, qualquer coisa de cruel que não consigo decifrar…
Como qualquer sombra esconde-se e aparece, sorri e tanta outras vezes chora loucamente…
Tropeço nas pedras, tropeço na vida…
Sento-me, peço mais um copo, bebo de imediato. De imediato também eu estou dentro do copo, flutuo naquele líquido como um náufrago…
È isso que eu sou no meio de todas estas pessoas, no meio desta cidade, não passo de um náufrago! Pelo menos é assim que eu me sinto…
Procuro em desespero encontrar alguém, procuro apurar a visão na esperança de ver qualquer coisa, mas nada!
Já passou tempo demais desde que naufraguei…
Já passou tempo demais desde que te perdi…
Procuro em vão algo para me agarrar, procuro olhando para dentro de mim, procuro olhando para fora de mim, mas nada!
Finalmente chega qualquer coisa, finalmente está a chegar o mensageiro do engano! Finalmente o álcool abraça-me. Ébrio, sabendo que me agarro a um galho que não existe agrada-me o falso calor de sentir que não vou cair.
Mas tem de haver uma porta, tem de haver uma janela eu sei…
Tem de haver um caminho, tem de haver alguém para abraçar…
Chuto a cadeira!
Chuto o copo! Sai de mim mensageiro do engano! Eu sou melhor que isto, eu sou melhor que nada, porque é isso que eu sou neste momento, sou nada! E nada é tudo o que vejo à minha volta…
Bato a porta do bar atrás de mim cuspindo palavrões que ardem na minha boca, já na rua inspiro fortemente, uma dor forte invade-me o peito ajoelho-me no chão agarrado ao coração!
Não pode ser verdade…
Não pode ser verdade coração de tantas lutas que agora que começaste outra vez a bater vais parar…

sexta-feira, outubro 19, 2007

Ligeiramente

Não me canso de te ver nua…
Ao tocar-te reparo que és toda altinhos…
Como é possível ficares em pele de galinha se ainda só agora te toco pela primeira vez esta noite…
Dou dois passos a trás…
Contemplo-te.
Nem acredito que vais deixar…, nem acredito que posso realmente abraçar-te assim contra o meu corpo, nem acredito que estamos aqui! Assim…
Beijo-te delicadamente as costas, que ombros lindos…
Sinto-te estremecer ligeiramente, vou descendo…
Toco com os meus lábios nos teus, adoro o teu cheiro, de onde estou não vejo a tua cara embora saiba bem que expressão tens….
A minha língua entra ligeiramente, ligeiramente a paz daquele quarto vai acabando, ligeiramente tu vais dançando levemente…
Continuo tranquilamente tocando com a minha língua nesse teu pequeno mundo, mexo-a indiferente a loucura de convulsões que vivem em ti, neste momento em que a minha boca se cola ao teu centro vivemos realidades tão diferentes e tão iguais…
Esquecido do tempo a minha língua dança suavemente dentro de ti, dentro de mim dança uma paz sobrenatural enquanto tu pareces escrava de um prazer que te vai consumindo irreversivelmente…
Afasto-me lentamente, observo-te assim curvada à minha frente, a tua cara de felicidade pede mais, o teu sexo pede mais…
Sim hoje vou dar-te tudo!
Entro em ti segurando-te as ancas, acabou a suavidade neste passeio, agora vamos acelerar loucamente até nos despistarmos numa qualquer curva…
Não demorou muito…
Explodimos os dois, tu ligeiramente primeiro….
Caies de barriga para baixo perdida…
Eu caio em seguida em cima de ti, o silêncio volta reinar gradualmente…
Não tarda vou adormecer em cima de ti, tu sabes disso, sinto-te escapar por baixo de mim…
Mais uma vez vivemos realidades diferentes, não quero mais nada se não adormecer…
Já tu agora sentes que és capaz de conquistar todo mundo se fosse necessário…

quarta-feira, outubro 10, 2007

Vício

Achas mesmo que não sou viciado?
Claro que sou!
Repara bem nos meus anéis, repara bem no meu olhar quando falo para eles, repara bem como me respeitam…
Sim sou viciado, o dinheiro é importante para mim. Mas não pelo que posso comprar com ele mas pelo poder que ele me trás!
Claro que sou viciado, adoro o poder que tenho, adoro respirar fundo olhando-os nos olhos sabendo que sou o melhor! O que tem mais poder…
Claro que todos me respeitam, mas toda esta magia, toda esta aura que me acompanha para todo o lado sai-me muito caro.
Sei que por ser viciado pago com a minha vida, com a vida dos meus filhos, com a vida da única mulher que amei e que é a barra onde me agarro quando fico de gatas!
SIM!
Porque eu, o melhor de todos, o mais respeitado também caio, também eu por vezes me sinto pequeno, não mais que um pequeno insecto!
Então só ela me sabe erguer do chão e voltar a fazer de mim o Líder que todos precisam e que tanto prazer me dá ser!
Vivo para isto, sou bom, aliás sou o melhor! Mas não porque tenha qualquer dom, mas porque corro mais que os outros, porque quando todos vão dormir eu ainda estou a meio da minha empreitada, não beijo o meu filho as vezes que gostaria porque estou demasiado ocupado a pensar como posso ultrapassar e vencer onde muitos acabaram por desistir…
Por isso não hesitem em cobrir-me de ouro e respeitem intensamente o meu nome, pois é com o meu suor que junto as pedras que protegem a minha casa!!

terça-feira, setembro 18, 2007

Sono

Agora que me sinto abandonado pouco mais me resta que a minha já um tanto gasta cama…
Recebe-me amiga e confidente, embrulha mais uma vez este já teu conhecido corpo e leva-me a passear…
Vamos mais uma vez voar juntos, vamos mais uma vez partilhar sonhos onde o tempo não existe!
Vamos partilhar sonhos onde a luxúria e o prazer se misturam, onde corpos nus olham para nós meio envergonhados não resistindo a deitar-se a nosso lado…
Indiferentes, tu e eu, recusamos primeiro, dizemos que não compreendemos porque querem deitar-se connosco, pedimos várias vezes para se vestirem e para irem para suas casas, mas eles não querem. Olham para nós com aqueles olhos lânguidos pedindo-nos que os usemos!
Por fim decidimos não mais dizer que não, e acabamos por fazer amor com todos eles como se não houvesse amanhã….

segunda-feira, agosto 20, 2007

Suave

Carrego no frágil botão…
Sento-me no velho cadeirão já gasto, aquela música evade-me, mistura-se comigo…
Provo o vinho, que suave…
Começo a dançar comigo mesmo, oiço aquele som tão perfeito, aquela voz que entra dentro de mim…
Abro a janela espreitando o mundo lá fora, sou beijado pelo vento, termino o primeiro copo…
Atiro-o! Fico a vê-lo descer, oiço finalmente o som! Oiço o som do vidro partir, em seguida grito, grito bem alto pedindo ao mundo que me abrace!
Sirvo-me de um segundo copo, troco a música, esta agora vai envolver-me de outra forma…
Assim passa o tempo, assim passa o vinho…
Despeço-me da última gota da garrafa, e agora sei onde estou, agora navego bem longe, agora sou mil personagens, agora sou Pai sou filho...
Sou terra sou mar…
O velho lápis ainda não parou de riscar velhas folhas, elas são donas de tantas memórias, de tantos caminhos…
Caminho pelo corredor tentando não fazer barulho, o álcool empurra-me contra as paredes…
Ai…
Como sinto vontade de me embrulhar em ti, como queria agora sussurrar-te mil e uma situações, algumas verdadeiras…
Pintar-te vários quadros enquanto fazemos amor, mergulhar em ti enquanto nada em mim aquele rubro vinho, toco nos teus redondos seios ouvindo a magnifica letra da música estalar na minha cabeça…Gostava que fosse minha…
E gostava que tu fosses minha, mas não és…
Nem a letra daquela angelical musica, nem tu que és a perfeição feita mulher….

terça-feira, julho 17, 2007

Lucas

15:00 (4-09-01)

Cheguei a casa…
Fogo, não entendo…
Porque é que as pessoas pisam!?, pisam tanto…
E eu sou tão inofensivo, sou tão pequeno, qual é o mal se choro quando oiço um determinada musica, qual é o mal se ao ler um livro viajo para longe, qual é o mal se tenho a capacidade de me entregar e deixar que as belezas do mundo façam de mim seu escravo!
Abro a porta, sou imediatamente abraçado por ela, sou beijado intensamente, enquanto mergulha o nariz no meu pescoço segreda-me que me ama…
A partir daqui a realidade começou a desvanecer-se, e tudo o que nos rodeava começou gradualmente a não ter importância, tudo é relativo, nada é importante, sou todo prazer e suor… A explosão do orgasmo coloca-me um resistente sorriso na boca, mesmo sabendo que lentamente volto para este mundo demasiado mau!
Ai…, se não pudesse fugir para esta perfeição de mulher e para a arte que outros fizeram, como aguentaria o enfado do grosso dos meus dias!
Quem é sensível ao toque da arte e do amor sabe do que estou a falar…
Bom, tenho de ir trabalhar. Uma gota de suor cai-me da testa, vejo-a agora descer por ti abaixo, desliza pelas tuas curvas. Penso, que sublime…

(FIM)

quinta-feira, julho 12, 2007

...

Fecho as portas apenas àqueles que vêem na minha bonomia um sinal de fraqueza.

quinta-feira, junho 07, 2007

Lucas

15h:20m (4-09-01)

Uma gota de suor cai-me da testa, vejo-a agora descer por ti a baixo, desliza pelas tuas curvas. Penso, que sublime…

14h:40m (4-09-01)

Caminho tristemente, como odeio toda essa treta do status…
Mas afinal o que é isso do status?
Há já sei, é uma constante preocupação sobre a percepção que os outros têm de nós, realmente é muito importante o que os outros pensam de mim, aliás é importantíssimo!
O pior é que eu não consigo perceber porque é importante, pelo menos para mim nunca foi importante, mas parece que lá no fundo toda a gente valoriza o nobre estatuto…
Ora por falar em estatuto, reparo agora que eu tenho um estatuto baixíssimo, pelo menos é o que me parece, pois tenho estado aqui a pensar em alguém que realmente me respeite, e sinceramente não me ocorre ninguém…
Caminho tristemente porque me foi incumbida a importantíssima missão de entregar um envelope a um senhor de fato que vai estar à minha espera num determinado restaurante que não conheço mas que sei onde fica.
Quando me foi ordenado que desperdiçasse assim a minha tarde, estava a compor uma música na minha viola, parecia-me que ia ficar lindíssima, senti naquele que momento que essa melodia não iria chegar a nascer, foi assassinada à nascença por esta ordem cruel!
Desta forma caminho devagar, tristemente, como se prestasse um ultimo ritual fúnebre, aquela fantástica melodia que nunca vai ser nada, e talvez pudesse vir a ser tudo…
Nunca vou saber...


(CONTINUA…)

quinta-feira, maio 24, 2007

Palavras

Cheguei agora.
Sabes que estou demasiado excitado para dormir…
Estive no escritório até muito tarde, depois fomos todos jantar, acabámos por beber demais.
Logo de manhã ao estacionar o Mercedes bati com a jante no passeio, passei-me!
Bom…, mas isso não importa, o que importa é que te amo, e que ontem a nossa facturação na empresa bateu todas as previsões. Vai ser um grande ano!
Tenho pensado tanto em ti, ontem enquanto almoçava a correr no restaurante do costume imaginei-te a cozinhar para mim. Apenas de avental cozinhavas qualquer coisa à pressa na nossa virtual cozinha, era branca com uma enorme bancada e janelas largas cheias de luz, devia ser um sétimo andar.
Quem sabe um dia tenhamos uma assim…
Sinto tantas saudades, és a mulher mais linda que já vi, todos os homens olham para ti na rua…detesto!
Apenas o meu portátil me faz sentir mais perto de ti, crio apresentações em PowerPoint com fotos tuas, abro um dos meus melhores vinhos e passo assim a noite contigo, vendo cada foto tua como se fosse pela primeira vez…
Tenho de ir meu amor, ainda tenho de acabar um relatório antes dormir, espero sonhar contigo.

Beijo

Cícero.


Subi para cima da árvore…
Sentei-me confortavelmente, senti um ligeiro calor na barriga, o sol brilhava agora com força.
Coloquei o xilofone em cima das pernas, comecei a tocar…
Juntamente com os pássaros sentia-me flutuar para outro mundo, uma pequena brisa sacode-me o cabelo, lembrei-me de ti…
Sinto uma saudade avassaladora dos teus lábios, reparo agora que faço parte duma extraordinária orquestra.
Sinto-me tão mole…
Desço da árvore, estico a pequena manta e deito-me, começo a ler…
Tenho os olhos tão pesados…
Algumas formigas irrequietas partilham a manta comigo, algumas insistem em também ler o meu livro.
Não me importo, sinto-me tão mole…
Está tão quentinho aqui na erva, com o sol como guardião sinto-me adormecer.
Acho que vai ficar por aqui a minha carta, lá ao fundo vejo agora um coelho correr, vou adormecer não tarda, o som das cigarras embala-me…
Só já falta um mês para te beijar…

Beijo

Alexandra.

sábado, maio 12, 2007

Solidão

Só saboreia sentar-se à mesa da solidão quem se encontra com ela apenas quando quer…

sábado, abril 14, 2007

Caminhos

Residem dentro de mim duas personalidades em tudo distintas.
Dois espíritos antagónicos que jamais concordarão…
Sei que é a existência dos dois que me traz equilíbrio e que ao mesmo tempo me agita.
O primeiro vive para as artes, é pobre, mal tem dinheiro para comer, alimenta-se da beleza das searas e do abraço do velho que passa.
O segundo é materialista, competitivo. Saboreia o conforto e não vira costas à ostentação.
Flutuo nestes dois mundos trantando-os por tu, são meus amigos, meus irmãos.
Regularmente sentamos-nos os três numa qualquer mesa de café, partilha-mos memórias e vinho, umas vezes de reserva outras de um qualquer garrafão, conhecemo-nos bem...

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Verde

Olhei-me ao espelho, sorri para mim.
Aquela cara jovem de dentes brancos sorriu-me de volta, sim gosto de me ver ao espelho! Não tenho vergonha de o dizer, gosto da imagem do jovem distinto e bem parecido que o espelho me devolve.
Componho o nó da gravata, verifico se o fato negro feito por medida assenta bem, volto a sorrir.
Não sou feliz, eu sei.
Confirmo as horas no meu “ Breitling”, mesmo no ponto, tenho de ir.
Beijo Joana nos lábios apressadamente, penso que se chama Joana, passámos uma noite deliciosa. Jantámos divinalmente, bebemos loucamente, e por fim amámo-nos selvaticamente.
Valeu o dinheiro.
Bato a porta do quarto, apanho o elevador que ia descer, nem sequer olho para a recepção, já na rua peço para irem buscar o meu carro ao parque, hoje não posso mesmo chegar atrasado…
Vejo chegar o meu carro conduzido pelo funcionário do hotel, apaixono-me outra vez. Não, não tenho namorada, muito menos mulher, amo loucamente várias coisas todas elas sem vida, uma delas é o meu “ Mercedes-Benz SLR Mclaren”.
Sou correspondido eu sei!
Chego em cima da hora, sou brindado com os “Como está Doutor”, como odeio essa gentinha pequena que andarilha pelo casino como abutres.
Empurro as portas laterais, já lá estás, esperas por mim, eu sei. Não, não precisas de me dizer, sabes que és a minha rainha, minha única e fiel companheira.
Sento-me de frente para ti, vamos mais uma vez dançar, dançar mil músicas, sei que me vais contar conversas antigas, diversos finais iremos voltar a ouvir, já os conhecemos todos…
Partilhamos uma taça de “ Moet & Chandon", sei que sou teu escravo, sei que não sei viver sem ti, sei que lá no fundo só não sou feliz por causa de ti. No escuro em casa por vezes grito o teu nome para ver se te esqueço mas é impossível, chega a hora e faço os mesmos rituais, dou os mesmos passos, amada Roleta, caminho sempre para ti…
Cinco horas trocámos beijos, cinco horas ganhei.
Abro a custo a porta do quarto de hotel, sinto-me o animal mais solitário do mundo, estou um tanto enjoado e cambaleante, bebi demais. Bebo sempre demais quando ganho.
Coloco um cd, “Frank Black – Honeycomb” invade o meu quarto, sento-me na gasta cadeira apoiando os braços na pequena mesa, coloco a mão timidamente na minha carteira.
Agarrado ás velhas fotografias choro compulsivamente, tudo agora é mais difícil, tudo agora custa a nascer em mim, procuro pela enésima vez escrever-te.
Os meus pequenos textos para ti não são mais do que sombras do que em tempos já escrevi, não posso mais cantar a arte se estou tão triste…
Esta tristeza que me consome, esta tristeza que eu sei matar se quiser, esta tristeza que eu não vou vencer…
Um dia faltarão os objectos para me alimentar, os vícios, esses já pouco me conseguem fazer sorrir. Pensei que era possível, mas já devia saber a resposta, nunca nada vai conseguir preencher o teu lugar…
Nem nada nem ninguém!
Pelo menos assim quero acreditar…