sábado, março 12, 2011

Se a torre Eiffel falasse…

Sentado no velho banco de pau observo o céu.

Lá fora o castanheiro dança para mim, que parvoíce, agora que estou velho é que o castanheiro dança para mim…

Está um vento fantástico, é Verão. Está uma tarde lindíssima, este vento novo, irreverente, insiste em mandar-me para dentro de casa. Mas hoje não, hoje vou ficar por aqui, afinal o castanheiro está a dançar para mim…

Todos foram, todos…

Mas também outros tantos apareceram, e eu sempre soube que ia ser assim, afinal na minha mesa ficava sempre um lugar vazio, não fosse chegar alguém com fome!

Com fome de comer, com fome de ler, com fome de partilhar ou apenas escutar…

Tanto na minha mesa como na minha vida sempre houve lugar para mais um. Pessoas boas fazem sempre falta, conheci várias, enterrei bastantes…

Lembro-me bem daquelas noites quentes na adega, poetas, escritores, curiosos das artes e mais qualquer um que trouxesse paz. Revelavam-se e bebiam vinho como se o amanhã não viesse. Saudade…

Eu por vezes tentava olhar de longe aquela gente da minha idade, muitos conhecia desde rapaz e pensava.

Caramba!

Fiz amor hoje de manhã com a mulher mais incrível de todas, a minha! Almocei com os meus belos filhos, e agora desfruto desta gente onde também estão os meus irmãos, bebendo cada palavra, saboreando cada ponto de vista, que maravilha!

Se sou boémio? Claro que sim! E espero ter dias em que também sou bom.

E assim nesta contemplação sei que tudo é tão simples, tão simples…

Olho para o meu jardim, foi ali que dancei contigo tantas vezes, ali debaixo do castanheiro que plantei contigo. Há…. Quem me dera…

Quem me dera tocar outra vez naquelas tuas nádegas firmes, que belo era o teu corpo, que bela eras quando dançavas aninhada no meu peito, nesse mesmo peito onde adormeces todas as noites desde há muito…

Ainda bem que enquanto lavas a nossa loiça não consegues ouvir os pensamentos deste teu velho, pois não ias gostar de saber como sinto falta do teu rabo firme!

Sim é verdade! Sinto falta de te ver vestir, sinto falta da tua cintura fina e pernas longas…

Ai…, sinto falta do teu peito farto, sinto falta pois! este teu velho ainda está bem vivo, que pensas!?

Ainda ontem pensei nas nossas noites em Paris, aquela bela e chuvosa Paris, aquele quartinho barato e tu nua perto da janela. A intensidade com que partilhávamos aquelas taças de vinho, a intensidade com que respiravas no meu pescoço. Como queria tirar outra vez aquela foto onde se vê o bico do teu peito e logo a seguir por trás da janela a torre Eiffel. Aquela torre espreitando os nossos corpos jovens e suados…

Se a torre Eiffel falasse…

4 comentários:

A. Jorge disse...

Obrigado pela visita e por me teres adicionado à tua lista de blogues que está a seguir.
Já dei um passeio pelo teu espaço e gostei.
Virei com certeza visitar-te mais vezes.

Um abraço

Jorge

tecas disse...

Excelente narrativa poética.
Saudade de tempos que já lá vão...
A idade está na nossa cabeça.
O castanheiro continua, no mesmo sítio, o vento vai e vem e o amor é como a primavera...renova-se quando a queremos dentro de nós.
Recordar é viver. Não existe velhice numa escrita perfeita.
Gostei de visitar o seu blog. Cheguei a ele por um amigo.
Um aplauso pela beleza do texto.
Saudações poéticas

Carlos Pimentel disse...

Adorei :)
Muito bem escrito meu caro. Só não posso dizer que fiquei muito surpreendido porque o que li tem muito a ver com o Pedro que começo a conhecer melhor. Uma forma de escrita muito pecualiar...com algum humor e erotismo à mistura. Uma combinação explosiva ;)
Vou ler os outros textos e vou tentar acompanhar as futuras publicações.
Continua no bom caminho... "Meu Velho" ;)

tecas disse...

Passei para ver, mas continua na Torre Eiffel!
Vá lá, desça da torre para nos oferecer outro texto com a beleza deste.
Fico à espera.
Abraço amigo.