sábado, outubro 14, 2006

Lua

Escrevo sem pressa, afinal ninguém espera por mim, não tenho ninguém…
Gosto de me ir tocando, enquanto fantasio sobre a noite que não me espera, sobre a vida que não vivo.
Agradavelmente húmida, escrevo mais algumas páginas.
Na minha trama, sou sedutora, sou bela, e vivo com uma coragem que não consigo encontrar dentro de mim.
Fora do papel sou frágil, tenho medo.
Gostava de sair porta fora e amar qualquer um!
Gostava de me enroscar num banco de jardim, nua, esperar que um qualquer me possuísse, ali, debaixo da lua.
Corria uma pequena brisa, lá ao fundo ouvia-se o enrolar das ondas.
Empinei o meu rabo, duas gotas escorrem do meu sexo caindo na madeira já gasta do banco de jardim.
Sinto um homem chegar, não lhe vejo a cara, oiço o fecho, sou invadida por um membro quente, bom…
Aqueles movimentos repetidos alimentam-me a alma, enchem-me de prazer, não consigo conter-me, sou toda convulsões.
Grito de prazer, o meu som sobrepõe-se ao som do mar, parece-me agora que o mundo é perfeito.
Tento mudar de posição, quero ver os olhos do meu parceiro de dança, procuro virar a cabeça, mas logo uma mão grossa, suja, calejada, obriga-me a mergulhar no banco de jardim.
Arquejo…
O meu rabo agora ainda mais empinado, expõe uma ratinha rubra, sinto-me exposta como ela, não tenho medo!
O meu dominador, que na realidade é meu escravo, segura agora o meu pescoço enquanto me penetra com alguma violência.
Venho-me uma vez e depois outra, a droga do prazer corre dentro de mim, a minha cabeça não pensa, não pensa nada.
Aqueles movimentos continuam a repetir-se, cada vez mais depressa, cada vez mais loucos.
Um grosso pénis sai agora de dentro de mim, também já não precisava dele, um jorro quente cai-me nas costas, estremeci!
Que faço eu aqui? Quem é este homem? A medo digo-lhe para ir embora, para sair dali, para imediatamente se afastar.
Puxo as minhas calças, ainda envergonhada sinto o homem aceder ao meu pedido.
Já não corre em mim qualquer droga, minha cabeça está agora a mil, volto a ser o que o que sempre fui…
Tenho medo.

9 comentários:

ricardo disse...

...todos temos medo...

abraço

ps-mais um post mto bom! ;)

Pedro Gamboa disse...

Little_blue_sheep.

É verdade.
Obrigado pela força, forte abraço.

Lara disse...

Este texto tocou-me, toco-me bastante... sobretudo o inicio. Por vezes parecemos tão fortes, parecemos ter tudo, mas parece que nos falta sempre algo... o mais simples, o mais básico.

Pedro, hoje digo eu... quem me dera ter escrito este texto.

beijos

pecado original disse...

Apetece-me rir... chorar... será do medo?!
Excelente*

Pedro Gamboa disse...

Bad Lolita.

Sim…, é verdade. Falta-nos sempre algo, mas talvez seja assim que esteja certo.
A eterna busca…
Beijinhos e obrigado (ter a oportunidade de que outros leiam o que eu escrevo, e principalmente ler coisas fantásticas que outros escrevem, tem sido uma experiência tremenda.)

Pecado Original.

Rir, chorar. Tudo que realmente importa, tudo o que realmente nos toca, reflecte-se em rir, chorar, e pouco mais…

Grande Abraço.

Abssinto disse...

Belo texto oh Peter! O final surpreendeu-me. Não sei se foi tua intenção mas a ideia com que fiquei, principalmente no fim foi o que transmitiu, é que é uma história de alguma jovem noctívaga sob o efeito da droga que foi abusada num parque. Tocou-me. Talvez por ser um acontecimento que vejo de perto, implícito, acontecer.

Abraço

Pedro Gamboa disse...

Abssinto.

Não posso dizer que foi exactamente como tu descreveste, o quadro que estava na minha cabeça quando pintei este texto, embora eu também nem sempre saiba bem delimitar os textos, por vezes a beleza estas nas enumeras variantes de interpretação…

Obrigado. Fortes Saudações.

tiago disse...

é vertiginoso o medo que nos vem, depois de satisfeito o corpo . e só ele.
um reparo (espero que não leves a mal): é «sobrepõe-se» e «expõe». com o «m» é no plural.
saudações ;)

Pedro Gamboa disse...

Tiago Lila


Pode ser perigoso quando o medo só chega depois…
Nem sempre se pode ser só instinto.
Obrigado, costumo sempre rever os textos, mas por vezes passam umas gralhas…
O pc nem sempre ajuda…

Abraço