terça-feira, outubro 24, 2006

Sorriso

Os paralelos, polidos, sujos, eram o espelho de uma Lua envergonhada.
As minhas botas velhas, prendiam-se ao chão…
Caminhava sem destino, eram duas da manhã, ouvia o barulho de vários cafés.
Tinha-me afastado da cidade, o pequeno caminho conduzia-me a uma zona de cultivo, estava muito vento…
Rapidamente os paralelos passaram a terra, não parei de caminhar, continuei absorto em pensamentos vários, estanquei!
O meu avô estava sentado numa pequena rocha, sorria para mim, enquanto eu caminhava para ele num misto de espanto, medo, e alegria.
Abracei-o, ele estava a chorar, sempre fora um homem de choro fácil, como eu.
O meu avô tinha morrido, à mais de dez anos, os últimos já quase totalmente invisual, tinha saudades.
Chorámos os dois, abraçados.
Disse-lhe que estava bem, que era feliz, mas ele já sabia isso tudo…
A paz dançava nos olhos do meu avô, ele estava bonito, talvez até um tanto mais jovem desde a ultima vez que o vira.
Como estava diferente, desde aquele dia, naquela cama de hospital.
Quis dizer-lhe que o amava, que éramos parecidos, que éramos da mesma casta, que infelizmente não pudemos conversar mais. Não era preciso…
Abraçamo-nos mais uma vez, desta vez com mais alegria, partimos cada um para seu lado, sem olhar para trás.
Caminhei tranquilamente para casa, a meio do caminho chorei outra vez, chorei de pura alegria, agradeci aquele fantástico momento, corri, corri muito.
Enquanto corria explanava a minha felicidade rindo e dançando com as árvores.
A lua brilhava agora intensamente, parei para a contemplar.
Acordei!
Acordei, acordei com um belo sorriso, disseste-me tu mais tarde, tinha sido apenas um sonho, um belo sonho…

11 comentários:

Abssinto disse...

Um belo sonho e até valeu a pena o pesadelo da 1ª parte. abraço

Miguel disse...

Nenhum sonho é "só um sonho".
E nos sonhos como em todos os momentos importantes, as palavras sobram, a paz permanece

pecado original disse...

Freud ajudava-te a interpretar o sonho melhor do que eu, mas não preciso de psicologia (apesar de psicologa) para saber que o amavas, que ele te amava e que aprendeste a sorrir de forma diferente.

Um belo texto. Tambem queria sonhar assim.
beijinho

tiago disse...

também queria sonhar assim. os meus são só coisas esquisitas e frustrações! :p fico feliz por ti :).

tiago disse...

também queria sonhar assim. os meus são só coisas esquisitas e frustrações! :p fico feliz por ti :).

Pedro Gamboa disse...

Abssinto.

È bom por vezes sonhar…

Abraço

Miguel.

Bonito. “ as palavras sobram, a paz permanece”

Saudações.

Pecado original.

Tenho para sempre momentos congelados, que espero nunca perder…

Alegres Saudações.

Tiago Lila.

Nem sempre os sonhos são bons…

Saudações.

Anónimo disse...

que bonito...

Pierrot disse...

Arrepiei-me.
Li-o duas vezes.
À segunda coloquei ennio morricone a tocar a musica do "era uma vez na america" e foi lindo.
Parabéns pela tua escrita, pelo teu sonho. Tanta gente que anda arredada deste blog... que pena!
É dos melhores que já li, sinceramente.
Abraço
Eugénio

Pedro Gamboa disse...

Snowflake.

Obrigado, beijinho.

Pierrot.

Não sei que dizer...
Muito obrigado.
Escrevi o texto todo a ouvir (vezes seguidas)- The Hands That Built America (U2).

Obrigado e Abraço Eugénio

Woman disse...

Espero por um sonho desses para esclarecer sentimentos. Nunca mais vem esse sonho...

Vim conhecer-te mais, aos poucos porque o trabalho anda louco, mas quero absorver-te.

Um beijo

Pedro Gamboa disse...

Woman

Pode ser que um dia venha, estamos sempre ligados...
Eu sei bem como é…
Temos de trabalhar, temos de ser terrenos por vezes.
Mas não sempre!

Como é bom perdermo-nos…