sábado, outubro 01, 2011

Outono e Uvas

Pedes-me para escrever sobre o Outono e sobre as uvas…
Deixa-me apenas escrever sobre as uvas, deixa-me apenas escrever sobre cachos, deixa-me apenas escrever sobre Lucas, Lucas o rapaz que trabalha na Fnac!
Lucas, o rapaz da Fnac é bonito! Sim é verdade Lucas é bonito, não sei se é inteligente, mas é bonito…
Lucas não repara nas raparigas, está demasiado absorvido com ele próprio, está demasiado absorvido com a música que lê, com os livros que ouve…
Elas param por lá, elas dançam por lá, elas ficam loucas com o Lucas, elas ficam húmidas com a indiferença, elas vibram com os acordes que de violoncelo da música de Lucas.
Lucas fuma como se não houvesse amanhã, e no meio do seu hálito de cinzeiro deixa a sua audiência quente, quente com a profundidade das suas palavras, com o a tristeza fingida que vende naturalmente.
Ele sabe que no fundo não é infeliz, ele sabe que no fundo gosta de as ver arranhar-lhe as costas de prazer, lá no fundo ele gosta de rir após uma noite de prazer com aquelas princesas que dormiram com ele apenas por acharem que é dele que nasce a arte.
Por acharem que é dele que nasce a cultura e todo o seu misticismo, porque ele é demais…
Porque é demais dar uma foda com um primo que não se sente integrado, com um primo que está sempre triste, que gosta de um som triste…
Mas Lucas embora vibre sabe que come hipocrisia ao pequeno-almoço, e sabe que é novo e que muito da imagem que passa é estratégia. Lucas sabe que ainda é uma fraude!
Talvez um dia possa haver uma fusão entre o que ele quer que pensem dele e aquilo que ele é, mas hoje ele sabe que ele é uma ideia, e uma ideia que flutua no ar sem ter qualquer ligação ao real.
Mas Lucas lá no fundo quer algo, não sabe ainda o que quer, mas quer! Ontem ao ver Patrícia toda nua debruçada sobre a mesa lembrou-se do Jorge.
Jorge Palma cantou-lhe num CD velho que …” na terra dos sonhos toda gente trata toda a gente por igual…” ele olhou para aquela princesa e sentiu que era lixo, e sentiu que só na terra dos sonhos vale a pena viver.
Ao sentir-se lixo percebeu que era Ouro, e ao bater no fundo percebeu que tinha nascido, e ao agarrar-se ao que valia a pena percebeu que o Peso é a maior leveza que se pode encontrar!

1 comentário:

tecas disse...

Excelente texto, amigo Cidade Tranquila. Muita filosofia, num rodar de olhar atento « descobriu que o peso é a maior leveza da vida».
Lindo. Saudações poéticas.